A singular história do lendário rei Candole foi recontada por vários autores ao longo do tempo desde Heródoto; mereceu referência em Platão, uma terceira versão de Nicolau de Damasco, outra de La Fontaine e até foi tema de ópera no século dezenove. Para melhor compreender o interesse que esta história despertou em Gautier a ponto transformá-la em novela, é preciso lembrar como a figura feminina aparece nas suas principais obras. O tema do «eterno feminino» e da figura da mulher como objeto de arte estão presentes na maioria de suas produções, bem como a figura da «femme fatale», sempre associando amor e morte e a impossibilidade de concretizar o amor na vida real. Para Théophile Gautier, o amor pela mulher é indissolúvel do amor à arte, o que é, sem dúvida, uma forma de loucura, compreensível e até justificada. A loucura de Gautier, ao focar a mulher apenas como o modelo ideal da obra de arte, é a mesma de seus heróis, e vai muito além. Este é o drama do seu herói: a troca do objeto da arte — objeto mulher — é processado como se a principal tarefa do escritor fosse descrever sua própria loucura e a parede que a arte constrói entre sua consciência e a vida real. Escrever para Gautier é fazer o inventário de suas próprias loucuras, múltiplas loucuras e engendrar umas às outras, espalhando-as como facetas do seu eu nos seus personagens.
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